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Carma: a Lei de Causa e Efeito
Carma no budismo é a força de samsara[1] sobre alguém. Boas ações e/ou ações ruins geram "sementes" na mente, que virão a aflorar nesta vida ou em um renascimento subsequente. Com o objetivo de cultivar as ações positivas, o sila[5] é um conceito importante do budismo, geralmente, traduzido como "virtude", "boa conduta", "moral" e "preceito".
No budismo, o carma se refere especificamente a essas ações (do corpo, fala e mente) que brotam da intenção mental e que geram consequências e/ou resultados. Cada vez que uma pessoa age, há alguma qualidade de intenção em sua mente e essa intenção muitas vezes não é demonstrada pelo seu exterior, mas está em seu interior e este determinará os efeitos dela decorrentes.
No budismo Teravada, não pode haver salvação divina ou perdão de um carma, uma vez que é um processo puramente impessoal que faz parte do Universo. Outras escolas, como a Maaiana, porém, têm opiniões diferentes. Por exemplo, os textos dos sutras (como o Sutra do Lótus, Sutra de Angulimala e Sutra do Nirvana) afirmam que, recitando ou simplesmente ouvindo seus textos, as pessoas podem expurgar grandes carmas negativos. Da mesma forma, outras escolas, Vajrayana por exemplo, incentivam a prática dos mantras como meio de cortar um carma negativo.
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Renascimento
O renascimento se refere a um processo pelo qual os seres passam por uma sucessão de vidas como uma das muitas formas possíveis de senciência. Entretanto, o budismo, natural da Índia, rejeita conceitos de "autoestima" permanente ou "mente imutável", eterna, como é chamada no cristianismo e até mesmo no hinduísmo, pois, no budismo, existe a doutrina do anatta[6], sobre a inexistência de um "eu" permanente e imutável.
De acordo com o budismo, o renascimento em existências subsequentes deve antes ser entendido como uma continuação dinâmica, um constante processo de mudança - "originação dependente" determinado pelas leis de causa e efeito (carma), em vez da noção de um ser encarnado ou transmigrado de uma existência para outra.
Cada renascimento ocorre dentro de um dos seis reinos, de acordo com os nossos reinos de desejos, podendo variar de acordo com as escolas:
- Reino Celestial: este reino possui mundos de vários níveis, diz-se que o menor dos deleites deste reino supera o maior dos deleites do reino humano. Tudo que os seres celestiais desejam, possuem, suas aflições, quando existem, são insignificantes (conforme o nível do paraíso.)
- Reino Semi Celestial: estado inferior ao Reino Celestial e superior ao Reino Humano, neste reino há deleites e realizações melhores que as do Reino Humano, porém os habitantes deste reino ainda sentem insatisfação, inveja e raiva e por isso ainda são sujeitos a muitas aflições.
- Reino Humano: reino em que há possibilidade de se experimentar todo tipo de sensação em níveis diversos, como deleites, realizações ou sofrimentos.
- Reino Animal: é dominado por desejos, violência, promiscuidade e profunda ignorância.
- Reino dos Fantasmas Famintos: é assim chamado por que os seres deste reino padecem necessidades sem alívio sofrendo remorsos, fome, sede, nudez, miséria, sintomas de doenças, dores e incontáveis outras aflições.
- Reino Infernal: os seres que habitam estes reinos são chamados seres demoníacos, devido seu profundo estado de revolta, demência e crueldade. Mas são apenas seres humanos, momentaneamente decaídos. Diz-se que o maior dos sofrimentos da condição humana não supera o menor dos padecimentos deste reino.
De acordo com o budismo praticado no leste asiático e o budismo tibetano, há um estado intermediário (o bardo[7]) entre uma vida e a próxima. A posição Teravada ortodoxa rejeita esse conceito, no entanto existem passagens no Samyutta Nikaya do Cânone Páli (coleção de textos em que a tradição Teravada é baseada) que parecem dar apoio à ideia de que o Buda ensinou que existe um estado intermediário entre esta vida e a próxima.
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Notas
[1]Samsara: pode ser descrito como o fluxo incessante de renascimentos através dos mundos.
Na maioria das tradições filosóficas da Índia, incluindo o Hinduísmo, o Budismo e o Jainismo, o ciclo de morte e renascimento é encarado como um fato natural. Esses sistemas diferem, entretanto, na terminologia com que descrevem o processo e na forma como o interpretam. A maioria das tradições observa o Samsara de forma negativa, uma condição a ser superada. Por exemplo, na escola Advaita[2] de Vedanta hindu, o Samsara é visto como a ignorância do verdadeiro eu, Brahman, e sua alma é levada a crer na realidade do mundo temporal e fenomenal. Já algumas adaptações dessas tradições identificam o Samsara (ou sa sâra, lit. "seu caminho") como uma simples metáfora.
[2] Advaita Vedanta: uma das três escolas de Vedanta do pensamento monista hindu. A palavra Vedanta vem de "Vedas - livros sagrados da antiga Índia" e "anta - final", ou seja é a culminação dos Vedas, a parte final e mais avançada dos Vedas. Há ainda um outra possibilidade de entendimento para o termo, significando a associação de textos complementares "ao final" do corpo principal dos Vedas. Os textos complementares em questão seriam as Upanishads.
Advaita literalmente significa "não dois", não dual; é um sistema filosófico que sustenta a não realidade, ou ilusão, de tudo aquilo que não seja a Consciência Suprema, Eterna e Infinita (Brahman[3]). Seu consolidador foi Shankara (788-820). Shankara expôs suas teorias baseadas amplamente nos ensinamentos dos Upanishads e de seu guru Gaudapada. Através da análise da consciência experimental, ele expôs a natureza relativa do mundo e estabeleceu a realidade não dual ou Brahman, na qual Atman[4] (a alma individual) ou Brahman (a realidade última) são absolutamente identificadas. Não é meramente uma filosofia, mas um sistema consciente de éticas aplicadas e meditação, direcionadas à obtenção da paz e compreensão da verdade. Adi Shankara acusou as castas e seus rituais de insignificantes e tolos, e em sua própria maneira carismática, suplicou aos verdadeiros devotos a meditarem no amor de Deus e alcançarem a verdade.
[3]Brahman: Brâman ou Brama é um conceito do hinduísmo; o termo designa o princípio divino, não-personalizado, e neutro do bramanismo e da teosofia. Não deve ser confundido com Brahma, que juntamente com Vishnu e Shiva formam a trindade clássica hindu.
[4]Atman: ou Atma, em Sânscrito significa alma ou sopro vital. Na teosofia representa a Mônada, o 7º princípio na constituição setenária do Homem, o mais elevado princípio do ser humano.
Para a teosofia, cada ser humano possui Atman, ou espírito indivídual, que é um reflexo da Alma Universal. O Atman é a idéia abstrata de "eu próprio". Ele não difere de tudo o que está no cosmos, exceto pela auto-consciência.
No Hinduísmo, Atman é o mais elevado princípio humano, a Essência divina, sem forma e indivisível. A expressão também é utilizado no Hinduísmo para expressar Brahman ou Paramatman. Na filosofia esotérica é considerado uma ligação do ser humano com a hierarquia cósmica.
Para a teosofia, cada ser humano possui Atman, ou espírito indivídual, que é um reflexo da Alma Universal. O Atman é a idéia abstrata de "eu próprio". Ele não difere de tudo o que está no cosmos, exceto pela auto-consciência.
No Hinduísmo, Atman é o mais elevado princípio humano, a Essência divina, sem forma e indivisível. A expressão também é utilizado no Hinduísmo para expressar Brahman ou Paramatman. Na filosofia esotérica é considerado uma ligação do ser humano com a hierarquia cósmica.
No Budismo o conceito de Atman é explicitamente negado pelo conceito básico budista de Anatta (em Pali; em Sânscrito, Anatman). Apesar disso o conceito é por vezes usado, geralmente sendo descrito como um obscurecimento ou obstáculo mental.
[5]Silap Inua: Na mitologia Inuit, Silap Inua ou Sila era, semelhante a mana ou éter, o componente primário de tudo o que existe; também é a respiração de vida e o método de locomoção para qualquer movimento ou mudança. Ela é conhecida para controlar tudo o que entra na vida das pessoas. Ou o destino de um.
[6]Anatta: Anatta (pali) ou anatman (sânscrito) é a doutrina budista da inexistência de um "eu" permanente e imutável.
De acordo com o Budismo, todas as coisas componentes ou condicionadas são impermanentes e estão em constante estado de fluxo. Segue-se daí a idéia de "não-eu" (anatta), que nega a existência de uma essência pessoal imutável e independente - em oposição à doutrina hinduísta de Atman.
Os budistas afirmam que a noção de um "eu" permanente é uma das principais causas das guerras e conflitos na história humana e que, vivendo de acordo com a noção de anatta ou não-eu, podemos ir além de nossos desejos mundanos. Na linguagem cotidiana, fala-se em "alma", "eu" ou "self" nos meios budistas, mas sempre com o entendimento de que nós somos interdependentes com outros, em vez de personalidades independentes imutáveis.
Na morte, corpo e mente se desintegram, mas, se a mente desfeita contém quaisquer resíduos cármicos, causa uma continuidade de consciência que reverbera em uma mente nascente em outro ser (um feto em desenvolvimento). Portanto, o ensinamento budista é que seres renascidos não são completamente distintos nem completamente iguais a seus antecessores.
Essa noção contrasta com o conceito hinduísta de Atman, que seria o ser que reencarna, representando a mais elevada centelha divina em cada ser humano. O pensamento budista nega essa idéia. Tanto o Budismo quanto o Hinduísmo concluem que há continuidade entre vidas, no entanto suas doutrinas sobre o que continua de uma vida para outra divergem: em uma há um "eu" transcendente (Atman); no outro, há apenas tendências e processos mentais que renascem.
[7]Bardo: Bardo (Antarabava, em sânscrito) é para o Budismo Tibetano um estado de existência intermediária entre a morte e o renascimento.
São enumerados quatro principais bardos:
- Bardo do local de nascimento
- Bardo do momento da morte
- Bardo da verdadeira natureza dos fenômenos
- Bardo do renascimento ou do vir-a-ser
O bardo do local do nascimento ainda contém mais dois bardos:
- Bardo dos sonhos
- Bardo do estado de meditação.
Totalizando assim seis bardos.
Uma obra fundamental do budismo tibetano é o Bardo Todhol, conhecido por Livro Tibetano dos Mortos. É um texto sagrado que deve ser lido para instruir a consciência de modo que ela saiba como se dirigir à iluminação no momento da morte. Trata-se da principal prática budista tibetana, que é a transferência da consciência (Phowa).
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