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Siddhartha Gautama Buddha
Sidarta Gautama, popularmente dito e escrito simplesmente Buda, foi um ex-príncipe da região nordeste da Ásia Meridional que tornou-se professor espiritual e fundou o Budismo. Na maioria das tradições budistas ele é considerado como o Supremo Buda (Sammāsambuddha) de nossa era, "Buda" significando "o despertado" ou "o iluminado". A época de seu nascimento e de sua morte são incertos: a maioria dos primeiros historiadores do século XX datava seu tempo de vida como sendo de por volta de 563 a.C. a 483 a.C.; mais recentemente, contudo, num simpósio especializado nesta questão, a maioria dos estudiosos apresentaram opiniões definitivas de datas dentro do intervalo de 20 anos antes ou depois de 400 a.C. para a morte do Buda, com outros apoiando datas mais tardias ou mais recentes.
Gautama, também conhecido como Śākyamuni ou Shakyamuni (sábio dos Shakyas), é a figura chave do Budismo: os budistas creem que os acontecimentos de sua vida, bem como seus discursos, e aconselhamentos monásticos foram preservados depois de sua morte e repassados para outros povos pelos seus seguidores. Uma variedade de ensinamentos atribuídos a Gautama foram repassados através da tradição oral, e então escritos cerca de 400 anos depois. Os primeiros estudiosos ocidentais tendiam a aceitar a biografia do Buda apresentada pelas escrituras budistas como verdadeiras, mas hoje em dia os acadêmicos são cada vez mais relutantes em clamar como inaptos os fatos históricos dos ensinamentos e da vida do Buda.
Siddhartha nasceu em Lumbini[1] e foi criado no pequeno reino ou principado de Kapilvastu, sendo que ambos estão no atual Nepal[2]. Na época do nascimento de Buda, a área estava na fronteira ou além da civilização védica[3], a cultura dominante no norte da Índia naquele tempo. É mesmo possível que a sua língua materna não fosse uma língua indo-ariana. Os textos antigos sugerem que Gautama não estava familiarizado com os ensinamentos religiosos dominantes do seu tempo até que partisse em sua busca religiosa, que foi motivada por uma preocupação existencial com a condição humana.
Naquele tempo, uma multidão de pequenas cidades-estado existiam na Índia Antiga, chamadas Janapadas. Repúblicas e chefias com poder político difuso e limitada estratificação social não eram raros e eram chamados de gana-sangas. A comunidade de Buda não parece ter tido um sistema de castas. Não era uma monarquia e parece ter sido estruturada ou como uma oligarquia ou como uma forma de república. A forma mais igualitária de governo das gana-sangas, como uma alternativa política aos reinos fortemente hierarquizados, pode ter influenciado o desenvolvimento de shramanas (monges errantes) jainistas e sanghas budistas onde as monarquias tendiam para o bramanismo védico.
Segundo a biografia tradicional, o pai de Buda foi o rei Suddhodana, líder do clã Shakya, cuja capital era Kapilavastu, e que foi posteriormente anexada pelo crescente reino de Kosala durante a vida de Buda. Gautama era o nome de família. Sua mãe, rainha Maha Maya (Māyādevī) e esposa de Suddhodana, era uma princesa Koliyan. Reza a lenda que, na noite que Siddhartha foi concebido, a rainha Maya sonhou que um elefante branco com seis presas brancas entrou em seu lado direito, e dez meses mais tarde Siddhartha nasceu. Como era a tradição shakya, quando sua mãe, a rainha Maya, ficou grávida, ela deixou Kapilvastu e foi para o reino de seu pai para dar à luz. No entanto, ela deu à luz no caminho, em Lumbini, em um jardim debaixo de uma árvore de shorea robusta.
Logo após o nascimento de Siddhartha, um astrólogo visitou o pai do jovem príncipe e profetizou que Siddhartha iria se tornar um grande rei e que renunciaria ao mundo material para se tornar um homem santo, se ele por ventura visse a vida fora das paredes do palácio.
O rei Suddhodana estava determinado a ver o seu filho se tornar um rei, por isso o proibiu de sair do palácio. Mas aos 29 anos, apesar dos esforços de seu pai, Siddhartha se aventurou para além do palácio diversas vezes. Em uma série de encontros (em locais conhecidos pela cultura budista como "quatro pontos"), ele soube do sofrimento das pessoas comuns, encontrando um homem velho, um outro doente, um cadáver e, finalmente, um ascético sadhu[5], aparentemente contente e em paz com o mundo. Essas experiências levaram Gautama, eventualmente, a abandonar a vida material e ir em busca de uma vida espiritual.
Siddhartha Gautama fez uma primeira tentativa, experimentando a ascese, e quase morreu de fome ao longo do processo. Depois de aceitar leite e arroz de uma menina da vila, ele mudou sua abordagem: concluiu que as práticas ascéticas extremas, como o jejum prolongado, respiração sem pressa e a exposição à dor trazem poucos benefícios, espiritualmente falando. Deduziu então que as práticas eram prejudiciais aos praticantes. Ele abandonou o ascetismo, concentrando-se na meditação anapanasati, através da qual descobriu o que hoje os budistas chamam de caminho do meio: um caminho que não passa pela luxúria e pelos prazeres sensuais, mas que também não passa pelas práticas de mortificação do corpo.
Quando tinha 35 anos de idade, Siddhartha sentou em baixo de uma árvore, hoje conhecida como árvore de Bodhi[6], localizada no Bodh Gaya[7], e prometeu não sair dali até conseguir atingir a iluminação.
A lenda diz que Siddhartha conheceu a dúvida sobre o sucesso de seus objetivos ao ser confrontado por um demônio chamado Mara, que simboliza o mundo das aparências e muitas vezes é representado por uma cobra naja. Ainda segundo a lenda, Mara teria oferecido o nirvana à Sidarta, contudo ele percebeu que isso o levaria a se distanciar do mundo e o impediria de transmitir seus ensinamentos adiante, e resistiu à tentação. Assim, por volta dos 40 anos, Sidarta se transformou no Buda, o iluminado, atraindo um grupo de seguidores, e instituiu uma ordem monástica. Agora, passaria seus dias ensinando o darma, viajando por toda a parte nordeste do subcontinente indiano. Ele sempre enfatizou que não era um deus e que a capacidade de se tornar um buda pertencia ao ser humano. Faleceu aos 80 anos de idade, em 483 a. C., em Kusinagar, na Índia.
Os estudiosos se contradizem em relação às afirmações sobre a história e os fatos da vida de Buda. A maioria aceita que ele viveu, ensinou e fundou uma ordem monástica, mas não aceita de forma consistente os detalhes de sua biografia. Segundo o escritor Michael Carrithers, em seu livro O Buda, o esboço de uma vida tem que ser verdadeiro: o nascimento, a maturidade, a renúncia, a busca, o despertar e a libertação, o ensino e a morte.
Ao escrever uma biografia sobre Buda, Karen Armstrong disse: "É obviamente difícil, portanto, escrever uma biografia de Buda, atendendo aos critérios modernos, porque temos muito pouca informação que pode ser considerada 'histórica'... mas podemos estar razoavelmente confiantes, pois Siddhartta Gautama realmente existiu e os seus discípulos preservam a sua memória, sua vida e seus ensinamentos"
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Legado
As fontes primárias de informações sobre a vida de Siddhartha Gautama são os textos budistas. Segundo estes, Buda e seus monges passavam quatro meses de cada ano discutindo e repetindo os seus ensinamentos, e depois de sua morte seus monges puseram-se a preservá-los. Um conselho foi realizado logo após sua morte e outro foi realizado um século depois. Nestes conselhos, os monges tentaram estabelecer e autenticar os relatos existentes da vida e dos ensinamentos de Buda seguindo regras sistemáticas. Dividiram os ensinamentos em grupos distintos, mas com sobreposição de material, e designaram monges específicos para preservar cada um. Em alguns casos, os aspectos essenciais dos ensinamentos atribuídos a Buda foram incorporados a histórias e cantos, em um esforço para preservá-los com precisão.
A partir de então, os ensinamentos foram transmitidos oralmente. Pelas provas internas, parece claro que os mais antigos textos foram cristalizados em sua forma atual à época do segundo concílio, ou pouco depois dele. As escrituras não foram anotadas até três ou quatro séculos depois da morte de Buda. Por este ponto, os próprios monges tinham adicionado ou alterado algum material, em particular exaltando a figura de Buda.
Os antigos indianos não eram geralmente preocupados com cronologias, sendo mais focados em filosofia. Os textos budistas refletem esta tendência, oferecendo uma imagem mais clara do que Shakyamuni pode ter ensinado do que das datas dos eventos em sua vida. Estes textos contêm descrições da cultura e da vida cotidiana da antiga Índia, que podem ser confirmados a partir das escrituras jainistas[8] e fazer a época da vida de Buda o período mais antigo na História da Índia para que relatos significativos existam. Segundo Michael Carrithers, há boas razões para duvidar do relato tradicional, embora, o esboço de "nascimento, maturidade, renúncia, busca, despertar e libertação, ensino, morte" deve ser verdade.
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Notas:
[1]Lumbini: o lugar onde Buda nasceu em 642 a.C. fica na zona de Lumbini, no Nepal, na base dos Himalaias. O sítio foi negligenciado por séculos; só em 1895 foi redescoberto por um arqueólogo alemão. Acredita-se que um templo e uma piscina descobertos no sítio sejam originais do tempo do nascimento de Buda.
[2]Nepal: país asiático dos Himalaias, limitado a norte pela China (Tibete) e a leste, sul e oeste pela Índia, e é um país sem costa marítima. A sua capital é Katmandu. No país se situa o monte Everest, o pico mais alto da terra com 8.848m, na fronteira norte com o Tibete.
[3]Civilização védica: é a cultura associada ao povo que compôs os textos religiosos conhecidos como Vedas[4], no subcontinente indiano. O território então ocupado por aquela civilização corresponde ao atual Panjabe, na Índia e Paquistão, à Província da Fronteira Noroeste (Paquistão) e à maior parte da Índia setentrional. Segundo a maioria dos estudiosos, a civilização védica desenvolveu-se entre mil e dois mil anos a.C., embora a tradição hindu proponha uma data mais remota, no sexto milênio a.C. O sânscrito védico e a religião védica persistiram até o século VI a.C., quando a cultura começou a transformar-se nas formas clássicas do hinduísmo. Este período da história da Índia é conhecido como a Era Védica. Em sua fase tardia (a partir de 700 a.C.), assistiu ao surgimento dos Mahajanapadas (os dezesseis grandes reinos indianos da Idade do Ferro); à Era Védica seguiu-se a Idade de Ouro do hinduísmo e da literatura clássica em sânscrito, o Império Maurya (a partir de 320 a.C.) e os reinos médios da Índia.
Com base em provas lingüísticas, a maioria dos estudiosos entende que povos de língua indo-ariana migraram para a Índia setentrional, numa onda inicial da expansão indo-iraniana a partir da Ásia Central. Ainda segundo esta teoria, os indo-arianos foram amalgamados com os resquícios da civilização do Vale do Indo de maneira a gerar a civilização védica. Os estudiosos divergem ao discutir se a migração para o subcontinente indiano foi pacífica ou violenta (invasão).
[4]Vedas: denominam-se Vedas os quatro textos, escritos em sânscrito por volta de 1500 a.C., que formam a base do extenso sistema de escrituras sagradas do hinduísmo, que representam a mais antiga literatura de qualquer língua indo-europeia. A palavra Veda, em sânscrito, significa conhecer.
São estes os quatro Vedas:
- Rigveda (veda dos hinos): hino e veda
- Yajurveda (veda do sacrifício): sacrifício e veda. Foco em liturgia, rituais e sacrifício.
- Samaveda (veda dos cantos rituais): canto ritual e veda.
- Atarvaveda: Atharvān (um tipo de sacerdote) e veda.
Muitos historiadores consideram os Vedas os textos sobreviventes mais antigos. Estima-se que as partes mais novas dos vedas datam a aproximadamente 500 a.C.; o texto mais antigo (Rigveda) encontrado é, atualmente, datado a aproximadamente 1500 a.C., mas a maioria dos indólogos concordam com a possibilidade de que uma longa tradição oral existiu antes que os Vedas fossem escritos. Representam o mais antigo extrato de literatura indiana e, de acordo com estudantes modernos, são escritos em uma forma de linguagem que evoluiu no sânscrito. Eles consideram o uso do sânscrito védico como a linguagem dos textos um anacronismo, embora seja geralmente aceita.
[5]Ascese; Sadhu: a ascese consiste na prática da renúncia do prazer ou mesmo a não satisfação de algumas necessidades primárias, com o fim de atingir determinados fins espirituais. O conceito abrange, por isso, um grande espectro de práticas, em culturas e etnias muito diferentes, que vão dos ritos iniciáticos (maus tratos, incisões e escoriações no corpo, repreensões de extrema severidade, a mutilação genital ou a participação em provas que exigem atos excessivos de coragem) aos hábitos monásticos de diversas religiões, incluindo o celibato, o jejum e a mortificação do corpo por diversos meios. `
Sadhu, no hinduísmo, é um termo comum para designar um místico, um asceta, um praticante de ioga ou um monge andarilho. "Sadhu!" é também uma expressão em sânscrito e pali, usada como interjeição para algo bem sucedido ou realizado com perfeição.
[6]Árvore de Bodhi: árvore debaixo da qual Siddhartha Gautama se sentou para meditar, e foi sob ela que ele teve o primeiro exemplo do conceito budista, o caminho do meio, ao aceitar alguma comida para continuar seu exercicio religioso.
[7]Bodh Gaya: Bodh Gaya ou Bodhgaya está localizada a 96 km de Patna no estado de Bihar na Índia. Historicamente era conhecida como Bodhimanda, onde um grande povoado monástico fora erigido. O principal monastério de Bodhgaya era chamado Bodhimanda-vihara. Para os budistas, Bodh Gaya é o mais importante local para peregrinação relacionado a Gautama Buddha, os outros 3 sendo Kushinagar, Lumbini e Sarnath. Em 2002 o complexo do Templo Mahabodhi de Bodh Gaya se tornou um patrimônio da humanidade da UNESCO.
[8]Jainismo: o jainismo ou jinismo é uma das religiões mais antigas da Índia, juntamente com o hinduísmo e o budismo, compartilhando com este último a ausência da necessidade de Deus como criador ou figura central. Considera-se que a sua origem antecede o Bramanismo, embora seja mais provável que tenha surgido na sua forma actual no século V a.C., em resultado da acção religiosa do Mahavira[9].
[9]Mahavira: Vardhamana, mais conhecido como Mahavira ("Grande Herói" em sânscrito) foi o último dos vinte e quatro Tirthankaras[10] do jainismo. Numa perspectiva histórica é considerado o fundador ou reformador deste sistema religioso. Segundo a tradição jaina teria nascido em 599 a.C. em Kshatriyakundagrama, na Índia, e falecido no ano de 527 a.C., em Pavapuri, embora alguns académicos considerem que as datas 540 a.C - 470 a.C. sejam mais correctas.
[10]Tirthankara: no Jainismo, um Tirthankara é um ser que conseguiu escapar ao ciclo dos renascimentos e que ensinou aos outros como poderiam também escapar desse ciclo. A palavra é sinônimo de Jina ("Vencedor").
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