ARQUIVO DO BLOG

segunda-feira, 21 de março de 2011

[ESPIRITUALIDADE] O Budismo (pt. 04)

 _________________________________________________________________
As Quatro  Nobres Verdades

     As Quatro Nobres Verdades (Sânscrito: catvāri āryasatyāni; Wyle: 'phags pa'i bden pa bzhi; Páli: cattāri ariyasaccāni) são um dos mais fundamentais ensinamentos do Budismo. Em termos resumidos, estas nobres verdades referem-se ao sofrimento (dukkha), sua natureza, sua origem, sua cessação e o caminho que conduz a essa cessação. Os budistas crêem que as Quatro Nobres Verdades estão entre as diversas experiências que Sidarta Gautama realizou durante sua tentativa de iluminação.
     As Quatro Nobres Verdades aparecem diversas vezes ao longo dos mais antigos textos budistas, no Canon Páli. Os primeiros ensinos e a compreensão tradicional no Budismo Therevada indica que as Quatro Nobres Verdades são ensinamentos avançados direcionados para aqueles que estão prontos a elas. O Budismo Mahayana considera-as como um ensinamento prejudicial para as pessoas que não estão prontas para ele.
     O motivo pelo qual o Buda teria ensinado as nobres verdades é esclarecido pelo contexto social da época em que ele viveu. Seu objetivo em vida era descobrir a verdade e alcançar a real e estável felicidade. Diz-se que ele alcançou este objetivo meditando debaixo da árvore bodhi próximo ao Rio Neranjana; as Quatro Nobres Verdades são a conclusão de seu entendimento sobre a natureza do sofrimento, sobre a causa fundamental de todo o sofrimento, da fuga do sofrimento e que o esforço de uma pessoa pode fazê-la alcançar a felicidade.
     Tais verdades não são expressas como uma hipótese ou como uma idéia provisória, mas sim, como Buda disse: "as Quatro Nobres Verdades, monges, são reais, infalíveis, e não o contrário. Portanto, elas são chamados de nobres verdades". 
   Buda também disse que as ensinou "porque são benéficas, porque pertencem aos fundamentos da vida santa, que conduz ao desencantamento, a dissipação, a cessação do sofrimento, à paz, ao conhecimento direto, à iluminação, ao Nirvana. É por isso que eu as declarei".
     
     Para a tradição religiosa, as Quatro Nobres Verdades constituem o primeiro ensinamento de Buda após sua verdadeira iluminação. São elas:
  1. A Natureza do Sofrimento (Dukkha): "esta é a nobre verdade do sofrimento: nascimento é sofrimento, envelhecimento é sofrimento, enfermidade é sofrimento, morte é sofrimento; tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero são sofrimentos; a união com aquilo que é desprazeroso é sofrimento; a separação daquilo que é prazeroso é sofrimento; não obter o que queremos é sofrimento; em resumo, os cinco agregados influenciados pelo apego são sofrimento."
  2. Origem do Sofrimento (Samudaya): "esta é a nobre verdade da origem do sofrimento: é este desejo que conduz a uma renovada existência, acompanhado pela cobiça e pelo prazer, buscando o prazer aqui e ali; isto é, o desejo pelos prazeres sensuais, o desejo por ser/existir, o desejo por não ser/existir."
  3. Cessação do Sofrimento (Nirodha): "esta é a nobre verdade da cessação do sofrimento: é o desaparecimento e cessação sem deixar vestígios daquele mesmo desejo, o abandono e renúncia a ele, a libertação dele, a independência dele."
  4. O Caminho (Magga) para a Cessação do Sofrimento: "esta é a nobre verdade do caminho que conduz à cessação do sofrimento: é este Nobre Caminho Óctuplo: entendimento correto, pensamento correto, linguagem correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta, concentração correta."
_________________________________________________________________
O Nobre Caminho Óctuplo

     O Nobre Caminho Óctuplo é, nos ensinamentos do Buda, um conjunto de oito práticas que correspondem à quarta Verdade Nobre do Budismo. Também é conhecido como o "caminho do meio" porque é baseado na moderação e na harmonia, sem cair em extremos.

     Essas oito práticas estão descritas nesta passagem:

“Agora, bhikkhus[1], esta é a nobre verdade do caminho que conduz à cessação do sofrimento: é este Nobre Caminho Óctuplo: entendimento correto, pensamento correto, linguagem correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta, concentração correta."

     O nobre caminho óctuplo é uma técnica usada para erradicar a ganância, o ódio e a ilusão. Em todos os elementos do nobre caminho óctuplo a palavra "Correto" é uma tradução da palavra samyañc (Sânscrito) ou sammā (Pāli), que denota plenitude e coerência, e que possui o sentido de "perfeito" ou "ideal". No simbolismo budista, o nobre caminho óctuplo é frequentemente representado pela roda do dharma, cujos oito aros representam os oito elementos do caminho.
 
  • Compreensão correta: Conhecer as Quatro Nobres Verdades de maneira a entender as coisas como elas realmente são, e com isso gerar uma motivação de querer se liberar de dukkha e ajudar os outros seres a fazerem o mesmo.
  • Pensamento correto: desenvolver as nobres qualidades da bondade amorosa, não tendo má vontade em relação aos outros, não querendo causar o mal (nem em pensamento), não ser avarento, e em suma, não ser egoísta.
  • Fala correta: abster-se de mentir, falar em vão, usar palavras ásperas ou caluniosas, e ao invés disso, falar a verdade, ter uma fala construtiva, harmoniosa, conciliadora.
  • Ação correta: promover a vida, praticar a generosidade e não causar o sofrimento através de práticas moralistas.
  • Meio de vida correto: compreender e respeitar o próprio corpo, olhar os outros com amor, compaixão, alegria e equanimidade, que são as quatro qualidades incomensuráveis, e na prática do dia-a-dia praticar os seis paramitas[2] da generosidade, ética, paz, esforço, concentração e sabedoria. Também inclui ter uma profissão que não esteja em desacordo com os princípios.
  • Esforço correto: praticar autodisciplina para obter a quietude e atenção da mente, de maneira a evitar estados de mente maléficos e desenvolver estados de mente sãos.
  • Atenção correta: desenvolver completa consciência de todas as ações do corpo, fala e mente para evitar atos insanos, através da contemplação da natureza verdadeira de todas as coisas.
  • Concentração correta: A partir da concentração, a mente entra em estado contemplativo; em seguida vem o nirvana.

     De maneira a facilitar o estudo do Nobre Caminho Óctuplo, é possível apresentá-lo em três grupos:
  • Prajna: é a sabedoria que purifica a mente, permitindo-lhe atingir uma visão espiritual da natureza de todas as coisas. Engloba:

       1. Ditthi: ver a realidade como ela é, não apenas como parece ser;
       2. Sankappa: a intenção de renúncia, de liberdade e inocuidade.

  • Sila: é a ética ou moral, a abstenção de atos nocivos. Engloba:

       3. Vāca: falando de uma maneira verdadeira e não-ofensiva;
       4. Kammanta: agir de uma maneira não-prejudicial;
       5. Ajīva: o meio de vida deve seguir os preceitos citados anteriormente.

  • Samadhi: é a disciplina mental necessária para desenvolver o domínio sobre a própria mente. Isso é feito através de certas práticas, incluindo aí a meditação. Engloba:

       6. Vāyāma: fazer um esforço para melhorar;
       7. Sati: a consciência de ver as coisas como elas estão com a consciência clara, consciente da realidade presente dentro de si mesmo, sem qualquer desejo ou aversão;
       8. Samādhi: meditação correta ou concentração.

     A prática do Caminho Óctuplo é compreendida de duas maneiras: desenvolvimento simultâneo dos oito itens paralelamente, ou como uma série progressiva pela qual o praticante se move, ao conquistar um estágio. Contudo, os quatro nikāyas principais e o Caminho Óctuplo, geralmente, não são ensinados para leigos e são pouco conhecidos no Extremo Oriente.
_________________________________________________________________
Notas:

[1]Bhikkhu: é o nome pelo qual são chamados, no budismo, aos monges do sexo masculino. As monjas recebem o nome de bhikkhunis. Bhikkhus e bhikkhunis obedecem a uma série de preceitos monásticos, cujas regras básicas são chamadas de patimokkha. Seu estilo de vida é moldado de forma a permitir as práticas espirituais, que são essencialmente a simplicidade e vida meditativa, até atingir o nirvana.
     O monaquismo foi introduzido no budismo desde o início da sua história, mas aplica-se, num primeiro tempo, apenas aos homens. Gautama Buddha aceitou que as mulheres pudessem ser monjas, designadas como bhikkhuni. A ordenação não é imediata: todo o que queira tomar votos tem de ser primeiro noviço, dito samanera. A partir dos 20 anos é possível fazer os votos de bhikhu.
     Existem cinco regras ou preceitos que os monges budistas devem observar:
  • não matar (nem deliberadamente, nem ordenar outros de o fazer)
  • não roubar (nem tomar o que lhe não pertence com intenção de possuir)
  • não mentir
  • não ter relações sexuais
  • não usar drogas ou álcool

[2]Paramita: "Perfeição" ou "Transcendente", "Que alcançou a outra margem". No budismo, chama-se de paramitas as perfeições ou culminações de certas práticas. Tais práticas são cultivadas por arahants e bodhisattvas para percorrer o caminho da vida sensorial (samsara) à iluminação (nirvana).

     No budismo theravada, as "Dez Perfeições" são:
  1. Dana parami: generosidade, doação
  2. Sila parami: virtude, moralidade, conduta apropriada
  3. Nekhamma parami: renúncia
  4. Panna parami: sabedoria transcendente
  5. Viriya parami: energia, diligência, vigor, esforço
  6. Khanti parami: paciência, tolerância, forbearance, aceitação, resistência
  7. Sacca parami: veracidade, honestidade
  8. Aditthana parami: determinação, resolução
  9. Metta parami: amor gentil
  10. Upekkha parami: equanimidade, serenidade
     No budismo mahayana, os sutras da Perfeição da Sabedoria (prajna-paramita) e o Sutra do Lótus (Saddharmapundarika) listam as "Seis Perfeições":
  1. Dana paramita: generosidade, doação
  2. Sila paramita: virtude, moralidade, conduta apropriada
  3. Shanti paramita: paciência, tolerância, auto-domínio, aceitação, resistência
  4. Virya paramita: energia, diligência, vigor, esforço
  5. Dhyana paramita: meditação, concentração, contemplação
  6. Prajna paramita: sabedoria transcendental

     O Sutra dos Dez Estágios (Dasabhumika), escrito posteriormente, menciona mais quatro:
  
  7.   Upaya paramita: meios hábeis
  8.   Pranidhana paramita: voto, resolução, aspiração, determinação
  9.   Bala paramita: poder espiritual
  10. Jnana paramita: conhecimento, sabedoria
_________________________________________________________________

[ESPIRITUALIDADE] O Budismo (pt. 03)

 ______________________________________________________________________
Carma: a Lei de Causa e Efeito

     Carma no budismo é a força de samsara[1] sobre alguém. Boas ações e/ou ações ruins geram "sementes" na mente, que virão a aflorar nesta vida ou em um renascimento subsequente. Com o objetivo de cultivar as ações positivas, o sila[5] é um conceito importante do budismo, geralmente, traduzido como "virtude", "boa conduta", "moral" e "preceito".
     No budismo, o carma se refere especificamente a essas ações (do corpo, fala e mente) que brotam da intenção mental e que geram consequências e/ou resultados. Cada vez que uma pessoa age, há alguma qualidade de intenção em sua mente e essa intenção muitas vezes não é demonstrada pelo seu exterior, mas está em seu interior e este determinará os efeitos dela decorrentes.
     No budismo Teravada, não pode haver salvação divina ou perdão de um carma, uma vez que é um processo puramente impessoal que faz parte do Universo. Outras escolas, como a Maaiana, porém, têm opiniões diferentes. Por exemplo, os textos dos sutras (como o Sutra do Lótus, Sutra de Angulimala e Sutra do Nirvana) afirmam que, recitando ou simplesmente ouvindo seus textos, as pessoas podem expurgar grandes carmas negativos. Da mesma forma, outras escolas, Vajrayana por exemplo, incentivam a prática dos mantras como meio de cortar um carma negativo.
_________________________________________________________________
Renascimento

     O renascimento se refere a um processo pelo qual os seres passam por uma sucessão de vidas como uma das muitas formas possíveis de senciência. Entretanto, o budismo, natural da Índia, rejeita conceitos de "autoestima" permanente ou "mente imutável", eterna, como é chamada no cristianismo e até mesmo no hinduísmo, pois, no budismo, existe a doutrina do anatta[6], sobre a inexistência de um "eu" permanente e imutável.
     De acordo com o budismo, o renascimento em existências subsequentes deve antes ser entendido como uma continuação dinâmica, um constante processo de mudança - "originação dependente" determinado pelas leis de causa e efeito (carma), em vez da noção de um ser encarnado ou transmigrado de uma existência para outra.
     Cada renascimento ocorre dentro de um dos seis reinos, de acordo com os nossos reinos de desejos, podendo variar de acordo com as escolas:
  • Reino Celestial: este reino possui mundos de vários níveis, diz-se que o menor dos deleites deste reino supera o maior dos deleites do reino humano. Tudo que os seres celestiais desejam, possuem, suas aflições, quando existem, são insignificantes (conforme o nível do paraíso.)
  • Reino Semi Celestial: estado inferior ao Reino Celestial e superior ao Reino Humano, neste reino há deleites e realizações melhores que as do Reino Humano, porém os habitantes deste reino ainda sentem insatisfação, inveja e raiva e por isso ainda são sujeitos a muitas aflições. 
  • Reino Humano: reino em que há possibilidade de se experimentar todo tipo de sensação em níveis diversos, como  deleites, realizações ou sofrimentos.
  • Reino Animal: é dominado por desejos, violência, promiscuidade e profunda ignorância. 
  • Reino dos Fantasmas Famintos: é assim chamado por que os seres deste reino padecem necessidades sem alívio sofrendo remorsos, fome, sede, nudez, miséria, sintomas de doenças, dores e incontáveis outras aflições.
  • Reino Infernal: os seres que habitam estes reinos são chamados seres demoníacos, devido seu profundo estado de revolta, demência e crueldade. Mas são apenas seres humanos, momentaneamente decaídos. Diz-se que o maior dos sofrimentos da condição humana não supera o menor dos padecimentos deste reino.
     O renascimento em alguns dos céus mais altos, conhecido como o mundo de Śuddhāvāsa (moradas puras), pode ser alcançado apenas por budistas profissionais qualificados, conhecidos como não-regressistas (anāgāmis, em sânscrito). Já o renascimento no reino sem forma (arupa-dhatu, em sânscrito) pode ser alcançando apenas por aqueles que podem meditar sobre o arupajhanas, o maior objeto de meditação.
     De acordo com o budismo praticado no leste asiático e o budismo tibetano, há um estado intermediário (o bardo[7]) entre uma vida e a próxima. A posição Teravada ortodoxa rejeita esse conceito, no entanto existem passagens no Samyutta Nikaya do Cânone Páli (coleção de textos em que a tradição Teravada é baseada) que parecem dar apoio à ideia de que o Buda ensinou que existe um estado intermediário entre esta vida e a próxima.

_________________________________________________________________
Notas

[1]Samsara: pode ser descrito como o fluxo incessante de renascimentos através dos mundos.
     Na maioria das tradições filosóficas da Índia, incluindo o Hinduísmo, o Budismo e o Jainismo, o ciclo de morte e renascimento é encarado como um fato natural. Esses sistemas diferem, entretanto, na terminologia com que descrevem o processo e na forma como o interpretam. A maioria das tradições observa o Samsara de forma negativa, uma condição a ser superada. Por exemplo, na escola Advaita[2] de Vedanta hindu, o Samsara é visto como a ignorância do verdadeiro eu, Brahman, e sua alma é levada a crer na realidade do mundo temporal e fenomenal. Já algumas adaptações dessas tradições identificam o Samsara (ou sa sâra, lit. "seu caminho") como uma simples metáfora.

[2] Advaita Vedanta: uma das três escolas de Vedanta do pensamento monista hindu. A palavra Vedanta vem de "Vedas - livros sagrados da antiga Índia" e "anta - final", ou seja é a culminação dos Vedas, a parte final e mais avançada dos Vedas. Há ainda um outra possibilidade de entendimento para o termo, significando a associação de textos complementares "ao final" do corpo principal dos Vedas. Os textos complementares em questão seriam as Upanishads.
     Advaita literalmente significa "não dois", não dual; é um sistema filosófico que sustenta a não realidade, ou ilusão, de tudo aquilo que não seja a Consciência Suprema, Eterna e Infinita (Brahman[3]). Seu consolidador foi Shankara (788-820). Shankara expôs suas teorias baseadas amplamente nos ensinamentos dos Upanishads e de seu guru Gaudapada. Através da análise da consciência experimental, ele expôs a natureza relativa do mundo e estabeleceu a realidade não dual ou Brahman, na qual Atman[4] (a alma individual) ou Brahman (a realidade última) são absolutamente identificadas. Não é meramente uma filosofia, mas um sistema consciente de éticas aplicadas e meditação, direcionadas à obtenção da paz e compreensão da verdade. Adi Shankara acusou as castas e seus rituais de insignificantes e tolos, e em sua própria maneira carismática, suplicou aos verdadeiros devotos a meditarem no amor de Deus e alcançarem a verdade.

[3]Brahman: Brâman ou Brama é um conceito do hinduísmo; o termo designa o princípio divino, não-personalizado, e neutro do bramanismo e da teosofia. Não deve ser confundido com Brahma, que juntamente com Vishnu e Shiva formam a trindade clássica hindu.

[4]Atman: ou Atma, em Sânscrito significa alma ou sopro vital. Na teosofia representa a Mônada, o 7º princípio na constituição setenária do Homem, o mais elevado princípio do ser humano.
     Para a teosofia, cada ser humano possui Atman, ou espírito indivídual, que é um reflexo da Alma Universal. O Atman é a idéia abstrata de "eu próprio". Ele não difere de tudo o que está no cosmos, exceto pela auto-consciência. 
     No Hinduísmo, Atman é o mais elevado princípio humano, a Essência divina, sem forma e indivisível. A expressão também é utilizado no Hinduísmo para expressar Brahman ou Paramatman. Na filosofia esotérica é considerado uma ligação do ser humano com a hierarquia cósmica.
     No Budismo o conceito de Atman é explicitamente negado pelo conceito básico budista de Anatta (em Pali; em Sânscrito, Anatman). Apesar disso o conceito é por vezes usado, geralmente sendo descrito como um obscurecimento ou obstáculo mental.

[5]Silap Inua: Na mitologia Inuit, Silap Inua ou Sila era, semelhante a mana ou éter, o componente primário de tudo o que existe; também é a respiração de vida e o método de locomoção para qualquer movimento ou mudança. Ela é conhecida para controlar tudo o que entra na vida das pessoas. Ou o destino de um.

[6]Anatta: Anatta (pali) ou anatman (sânscrito) é a doutrina budista da inexistência de um "eu" permanente e imutável.

     De acordo com o Budismo, todas as coisas componentes ou condicionadas são impermanentes e estão em constante estado de fluxo. Segue-se daí a idéia de "não-eu" (anatta), que nega a existência de uma essência pessoal imutável e independente - em oposição à doutrina hinduísta de Atman.
     Os budistas afirmam que a noção de um "eu" permanente é uma das principais causas das guerras e conflitos na história humana e que, vivendo de acordo com a noção de anatta ou não-eu, podemos ir além de nossos desejos mundanos. Na linguagem cotidiana, fala-se em "alma", "eu" ou "self" nos meios budistas, mas sempre com o entendimento de que nós somos interdependentes com outros, em vez de personalidades independentes imutáveis.
     Na morte, corpo e mente se desintegram, mas, se a mente desfeita contém quaisquer resíduos cármicos, causa uma continuidade de consciência que reverbera em uma mente nascente em outro ser (um feto em desenvolvimento). Portanto, o ensinamento budista é que seres renascidos não são completamente distintos nem completamente iguais a seus antecessores.
     Essa noção contrasta com o conceito hinduísta de Atman, que seria o ser que reencarna, representando a mais elevada centelha divina em cada ser humano. O pensamento budista nega essa idéia. Tanto o Budismo quanto o Hinduísmo concluem que há continuidade entre vidas, no entanto suas doutrinas sobre o que continua de uma vida para outra divergem: em uma há um "eu" transcendente (Atman); no outro, há apenas tendências e processos mentais que renascem.

[7]Bardo: Bardo (Antarabava, em sânscrito) é para o Budismo Tibetano um estado de existência intermediária entre a morte e o renascimento.
São enumerados quatro principais bardos:
  • Bardo do local de nascimento
  • Bardo do momento da morte
  • Bardo da verdadeira natureza dos fenômenos
  • Bardo do renascimento ou do vir-a-ser

     O bardo do local do nascimento ainda contém mais dois bardos:
  • Bardo dos sonhos
  • Bardo do estado de meditação.

     Totalizando assim seis bardos.
    Uma obra fundamental do budismo tibetano é o Bardo Todhol, conhecido por Livro Tibetano dos Mortos. É um texto sagrado que deve ser lido para instruir a consciência de modo que ela saiba como se dirigir à iluminação no momento da morte. Trata-se da principal prática budista tibetana, que é a transferência da consciência (Phowa).
 _________________________________________________________________

[ESPIRITUALIDADE] O Budismo (pt. 02)

 _________________________________________________________________
Siddhartha Gautama Buddha


     Sidarta Gautama, popularmente dito e escrito simplesmente Buda, foi um ex-príncipe da região nordeste da Ásia Meridional que tornou-se professor espiritual e fundou o Budismo. Na maioria das tradições budistas ele é considerado como o Supremo Buda (Sammāsambuddha) de nossa era, "Buda" significando "o despertado" ou "o iluminado". A época de seu nascimento e de sua morte são incertos: a maioria dos primeiros historiadores do século XX datava seu tempo de vida como sendo de por volta de 563 a.C. a 483 a.C.; mais recentemente, contudo, num simpósio especializado nesta questão, a maioria dos estudiosos apresentaram opiniões definitivas de datas dentro do intervalo de 20 anos antes ou depois de 400 a.C. para a morte do Buda, com outros apoiando datas mais tardias ou mais recentes.
     Gautama, também conhecido como Śākyamuni ou Shakyamuni (sábio dos Shakyas), é a figura chave do Budismo: os budistas creem que os acontecimentos de sua vida, bem como seus discursos, e aconselhamentos monásticos foram preservados depois de sua morte e repassados para outros povos pelos seus seguidores. Uma variedade de ensinamentos atribuídos a Gautama foram repassados através da tradição oral, e então escritos cerca de 400 anos depois. Os primeiros estudiosos ocidentais tendiam a aceitar a biografia do Buda apresentada pelas escrituras budistas como verdadeiras, mas hoje em dia os acadêmicos são cada vez mais relutantes em clamar como inaptos os fatos históricos dos ensinamentos e da vida do Buda.
     Siddhartha nasceu em Lumbini[1] e foi criado no pequeno reino ou principado de Kapilvastu, sendo que ambos estão no atual Nepal[2]. Na época do nascimento de Buda, a área estava na fronteira ou além da civilização védica[3], a cultura dominante no norte da Índia naquele tempo. É mesmo possível que a sua língua materna não fosse uma língua indo-ariana. Os textos antigos sugerem que Gautama não estava familiarizado com os ensinamentos religiosos dominantes do seu tempo até que partisse em sua busca religiosa, que foi motivada por uma preocupação existencial com a condição humana.   
     Naquele tempo, uma multidão de pequenas cidades-estado existiam na Índia Antiga, chamadas Janapadas. Repúblicas e chefias com poder político difuso e limitada estratificação social não eram raros e eram chamados de gana-sangas. A comunidade de Buda não parece ter tido um sistema de castas. Não era uma monarquia e parece ter sido estruturada ou como uma oligarquia ou como uma forma de república. A forma mais igualitária de governo das gana-sangas, como uma alternativa política aos reinos fortemente hierarquizados, pode ter influenciado o desenvolvimento de shramanas (monges errantes) jainistas e sanghas budistas onde as monarquias tendiam para o bramanismo védico.
     Segundo a biografia tradicional, o pai de Buda foi o rei Suddhodana, líder do clã Shakya, cuja capital era Kapilavastu, e que foi posteriormente anexada pelo crescente reino de Kosala durante a vida de Buda. Gautama era o nome de família. Sua mãe, rainha Maha Maya (Māyādevī) e esposa de Suddhodana, era uma princesa Koliyan. Reza a lenda que, na noite que Siddhartha foi concebido, a rainha Maya sonhou que um elefante branco com seis presas brancas entrou em seu lado direito, e dez meses mais tarde Siddhartha nasceu. Como era a tradição shakya, quando sua mãe, a rainha Maya, ficou grávida, ela deixou Kapilvastu e foi para o reino de seu pai para dar à luz. No entanto, ela deu à luz no caminho, em Lumbini, em um jardim debaixo de uma árvore de shorea robusta.
     Logo após o nascimento de Siddhartha, um astrólogo visitou o pai do jovem príncipe e profetizou que Siddhartha iria se tornar um grande rei e que renunciaria ao mundo material para se tornar um homem santo, se ele por ventura visse a vida fora das paredes do palácio.
     O rei Suddhodana estava determinado a ver o seu filho se tornar um rei, por isso o proibiu de sair do palácio. Mas aos 29 anos, apesar dos esforços de seu pai, Siddhartha se aventurou para além do palácio diversas vezes. Em uma série de encontros (em locais conhecidos pela cultura budista como "quatro pontos"), ele soube do sofrimento das pessoas comuns, encontrando um homem velho, um outro doente, um cadáver e, finalmente, um ascético sadhu[5], aparentemente contente e em paz com o mundo. Essas experiências levaram Gautama, eventualmente, a abandonar a vida material e ir em busca de uma vida espiritual.
     Siddhartha Gautama fez uma primeira tentativa, experimentando a ascese, e quase morreu de fome ao longo do processo. Depois de aceitar leite e arroz de uma menina da vila, ele mudou sua abordagem: concluiu que as práticas ascéticas extremas, como o jejum prolongado, respiração sem pressa e a exposição à dor trazem poucos benefícios, espiritualmente falando. Deduziu então que as práticas eram prejudiciais aos praticantes. Ele abandonou o ascetismo, concentrando-se na meditação anapanasati, através da qual descobriu o que hoje os budistas chamam de caminho do meio: um caminho que não passa pela luxúria e pelos prazeres sensuais, mas que também não passa pelas práticas de mortificação do corpo.
     Quando tinha 35 anos de idade, Siddhartha sentou em baixo de uma árvore, hoje conhecida como árvore de Bodhi[6], localizada no Bodh Gaya[7], e prometeu não sair dali até conseguir atingir a iluminação.
     A lenda diz que Siddhartha conheceu a dúvida sobre o sucesso de seus objetivos ao ser confrontado por um demônio chamado Mara, que simboliza o mundo das aparências e muitas vezes é representado por uma cobra naja. Ainda segundo a lenda, Mara teria oferecido o nirvana à Sidarta, contudo ele percebeu que isso o levaria a se distanciar do mundo e o impediria de transmitir seus ensinamentos adiante, e resistiu à tentação. Assim, por volta dos 40 anos, Sidarta se transformou no Buda, o iluminado, atraindo um grupo de seguidores, e instituiu uma ordem monástica. Agora, passaria seus dias ensinando o darma, viajando por toda a parte nordeste do subcontinente indiano. Ele sempre enfatizou que não era um deus e que a capacidade de se tornar um buda pertencia ao ser humano. Faleceu aos 80 anos de idade, em 483 a. C., em Kusinagar, na Índia.
     Os estudiosos se contradizem em relação às afirmações sobre a história e os fatos da vida de Buda. A maioria aceita que ele viveu, ensinou e fundou uma ordem monástica, mas não aceita de forma consistente os detalhes de sua biografia. Segundo o escritor Michael Carrithers, em seu livro O Buda, o esboço de uma vida tem que ser verdadeiro: o nascimento, a maturidade, a renúncia, a busca, o despertar e a libertação, o ensino e a morte.
     Ao escrever uma biografia sobre Buda, Karen Armstrong disse: "É obviamente difícil, portanto, escrever uma biografia de Buda, atendendo aos critérios modernos, porque temos muito pouca informação que pode ser considerada 'histórica'... mas podemos estar razoavelmente confiantes, pois Siddhartta Gautama realmente existiu e os seus discípulos preservam a sua memória, sua vida e seus ensinamentos"
_________________________________________________________________
Legado

     As fontes primárias de informações sobre a vida de Siddhartha Gautama são os textos budistas. Segundo estes, Buda e seus monges passavam quatro meses de cada ano discutindo e repetindo os seus ensinamentos, e depois de sua morte seus monges puseram-se a preservá-los. Um conselho foi realizado logo após sua morte e outro foi realizado um século depois. Nestes conselhos, os monges tentaram estabelecer e autenticar os relatos existentes da vida e dos ensinamentos de Buda seguindo regras sistemáticas. Dividiram os ensinamentos em grupos distintos, mas com sobreposição de material, e designaram monges específicos para preservar cada um. Em alguns casos, os aspectos essenciais dos ensinamentos atribuídos a Buda foram incorporados a histórias e cantos, em um esforço para preservá-los com precisão.
     A partir de então, os ensinamentos foram transmitidos oralmente. Pelas provas internas, parece claro que os mais antigos textos foram cristalizados em sua forma atual à época do segundo concílio, ou pouco depois dele. As escrituras não foram anotadas até três ou quatro séculos depois da morte de Buda. Por este ponto, os próprios monges tinham adicionado ou alterado algum material, em particular exaltando a figura de Buda.
     Os antigos indianos não eram geralmente preocupados com cronologias, sendo mais focados em filosofia. Os textos budistas refletem esta tendência, oferecendo uma imagem mais clara do que Shakyamuni pode ter ensinado do que das datas dos eventos em sua vida. Estes textos contêm descrições da cultura e da vida cotidiana da antiga Índia, que podem ser confirmados a partir das escrituras jainistas[8] e fazer a época da vida de Buda o período mais antigo na História da Índia para que relatos significativos existam. Segundo Michael Carrithers, há boas razões para duvidar do relato tradicional, embora, o esboço de "nascimento, maturidade, renúncia, busca, despertar e libertação, ensino, morte" deve ser verdade.    
_________________________________________________________________
Notas:

[1]Lumbini: o lugar onde Buda nasceu em 642 a.C. fica na zona de Lumbini, no Nepal, na base dos Himalaias. O sítio foi negligenciado por séculos; só em 1895 foi redescoberto por um arqueólogo alemão. Acredita-se que um templo e uma piscina descobertos no sítio sejam originais do tempo do nascimento de Buda.

[2]Nepal: país asiático dos Himalaias, limitado a norte pela China (Tibete) e a leste, sul e oeste pela Índia, e é um país sem costa marítima. A sua capital é Katmandu. No país se situa o monte Everest, o pico mais alto da terra com 8.848m, na fronteira norte com o Tibete.

[3]Civilização védica: é a cultura associada ao povo que compôs os textos religiosos conhecidos como Vedas[4], no subcontinente indiano. O território então ocupado por aquela civilização corresponde ao atual Panjabe, na Índia e Paquistão, à Província da Fronteira Noroeste (Paquistão) e à maior parte da Índia setentrional. Segundo a maioria dos estudiosos, a civilização védica desenvolveu-se entre mil e dois mil anos a.C., embora a tradição hindu proponha uma data mais remota, no sexto milênio a.C. O sânscrito védico e a religião védica persistiram até o século VI a.C., quando a cultura começou a transformar-se nas formas clássicas do hinduísmo. Este período da história da Índia é conhecido como a Era Védica. Em sua fase tardia (a partir de 700 a.C.), assistiu ao surgimento dos Mahajanapadas (os dezesseis grandes reinos indianos da Idade do Ferro); à Era Védica seguiu-se a Idade de Ouro do hinduísmo e da literatura clássica em sânscrito, o Império Maurya (a partir de 320 a.C.) e os reinos médios da Índia.

     Com base em provas lingüísticas, a maioria dos estudiosos entende que povos de língua indo-ariana migraram para a Índia setentrional, numa onda inicial da expansão indo-iraniana a partir da Ásia Central. Ainda segundo esta teoria, os indo-arianos foram amalgamados com os resquícios da civilização do Vale do Indo de maneira a gerar a civilização védica. Os estudiosos divergem ao discutir se a migração para o subcontinente indiano foi pacífica ou violenta (invasão).


[4]Vedas: denominam-se Vedas os quatro textos, escritos em sânscrito por volta de 1500 a.C., que formam a base do extenso sistema de escrituras sagradas do hinduísmo, que representam a mais antiga literatura de qualquer língua indo-europeia. A palavra Veda, em sânscrito, significa conhecer.

     São estes os quatro Vedas:
  1. Rigveda (veda dos hinos): hino e veda
  2. Yajurveda (veda do sacrifício): sacrifício e veda. Foco em liturgia, rituais e sacrifício.
  3. Samaveda (veda dos cantos rituais): canto ritual e veda.
  4. Atarvaveda: Atharvān (um tipo de sacerdote) e veda.


    Muitos historiadores consideram os Vedas os textos sobreviventes mais antigos. Estima-se que as partes mais novas dos vedas datam a aproximadamente 500 a.C.; o texto mais antigo (Rigveda) encontrado é, atualmente, datado a aproximadamente 1500 a.C., mas a maioria dos indólogos concordam com a possibilidade de que uma longa tradição oral existiu antes que os Vedas fossem escritos. Representam o mais antigo extrato de literatura indiana e, de acordo com estudantes modernos, são escritos em uma forma de linguagem que evoluiu no sânscrito. Eles consideram o uso do sânscrito védico como a linguagem dos textos um anacronismo, embora seja geralmente aceita.


[5]Ascese; Sadhu: a ascese consiste na prática da renúncia do prazer ou mesmo a não satisfação de algumas necessidades primárias, com o fim de atingir determinados fins espirituais. O conceito abrange, por isso, um grande espectro de práticas, em culturas e etnias muito diferentes, que vão dos ritos iniciáticos (maus tratos, incisões e escoriações no corpo, repreensões de extrema severidade, a mutilação genital ou a participação em provas que exigem atos excessivos de coragem) aos hábitos monásticos de diversas religiões, incluindo o celibato, o jejum e a mortificação do corpo por diversos meios. `
     Sadhu, no hinduísmo, é um termo comum para designar um místico, um asceta, um praticante de ioga ou um monge andarilho. "Sadhu!" é também uma expressão em sânscrito e pali, usada como interjeição para algo bem sucedido ou realizado com perfeição.

[6]Árvore de Bodhi: árvore debaixo da qual Siddhartha Gautama se sentou para meditar, e foi sob ela que ele teve o primeiro exemplo do conceito budista, o caminho do meio, ao aceitar alguma comida para continuar seu exercicio religioso.

[7]Bodh Gaya: Bodh Gaya ou Bodhgaya está localizada a 96 km de Patna no estado de Bihar na Índia. Historicamente era conhecida como Bodhimanda, onde um grande povoado monástico fora erigido. O principal monastério de Bodhgaya era chamado Bodhimanda-vihara. Para os budistas, Bodh Gaya é o mais importante local para peregrinação relacionado a Gautama Buddha, os outros 3 sendo Kushinagar, Lumbini e Sarnath. Em 2002 o complexo do Templo Mahabodhi de Bodh Gaya se tornou um patrimônio da humanidade da UNESCO.

[8]Jainismo: o jainismo ou jinismo é uma das religiões mais antigas da Índia, juntamente com o hinduísmo e o budismo, compartilhando com este último a ausência da necessidade de Deus como criador ou figura central. Considera-se que a sua origem antecede o Bramanismo, embora seja mais provável que tenha surgido na sua forma actual no século V a.C., em resultado da acção religiosa do Mahavira[9].

[9]Mahavira: Vardhamana, mais conhecido como Mahavira ("Grande Herói" em sânscrito) foi o último dos vinte e quatro Tirthankaras[10] do jainismo. Numa perspectiva histórica é considerado o fundador ou reformador deste sistema religioso. Segundo a tradição jaina teria nascido em 599 a.C. em Kshatriyakundagrama, na Índia, e falecido no ano de 527 a.C., em Pavapuri, embora alguns académicos considerem que as datas 540 a.C - 470 a.C. sejam mais correctas.

[10]Tirthankara: no Jainismo, um Tirthankara é um ser que conseguiu escapar ao ciclo dos renascimentos e que ensinou aos outros como poderiam também escapar desse ciclo. A palavra é sinônimo de Jina ("Vencedor").

_________________________________________________________________

[ESPIRITUALIDADE] O Budismo (pt. 01)

_________________________________________________________________
Aspectos Gerais:

     O Budismo é uma religião e filosofia não-teísta, abrangendo uma variedade de tradições, crenças e práticas, baseadas nos ensinamentos atribuídos a Siddhartha Gautama, mais conhecido como Buda (O Iluminado). Buda viveu e desenvolveu seus ensinamentos no nordeste do subcontinente indiano, entre os séculos IV e VI a. C.

   Ele é reconhecido pelos adeptos como um mestre iluminado que compartilhou suas ideias para ajudar os seres sencientes a alcançar o fim do sofrimento (ou Dukkha), alcançando o Nirvana[1] e escapando do que é visto como um ciclo de sofrimento do renascimento.
     O budismo pode ser dividido em dois grandes ramos: Theravada[2] ("Doutrina dos Anciões") e Mahayana[3] ("O Grande Veículo"). A tradição Theravada, que descende da escola Vibhajyavada do tronco Sthaviravada, é o mais antigo ramo do budismo. É bastante difundido nas regiões do Sri Lanka e sudeste da Ásia, já a segunda, Mahayana, é encontrada em toda a Ásia Oriental e inclui, dentro de si, as tradições e escolas Terra Pura, Zen, Budismo de Nitiren, Budismo Tibetano, Tendai e Shingon. Em algumas classificações, a Vajrayana aparece como subcategoria de Mahayana, entretanto é reconhecida como um terceiro ramo.
     Mesmo o budismo sendo uma prática muito popular na Ásia, os dois ramos são encontrados em todo o mundo. Várias fontes colocam o número de budistas no mundo entre 230 milhões e 500 milhões, tornando-o a quinta maior religião do mundo.
     As escolas budistas variam sobre a natureza exata do caminho da libertação, a importância e canonicidade de vários ensinamentos e, especialmente, suas práticas. Entretanto, as bases das tradições e práticas são as Três Joias: O Buda (como seu mestre), o Dharma (os ensinamentos) e a Sangha (a comunidade budista). Encontrar refúgio espiritual nas Três Joias ou Três Tesouros é, em geral, o que distingue um budista de um não-budista. Outras práticas podem incluir a renúncia convencional de vida secular para se tornar um monge ou monja.


A Roda da Vida
__________________________________________________________________________________
NOTAS:

[1] Nirvana: no Budismo, Nirvana é o estado de libertação do sofrimento (ou dukkha) segundo o pensamento dos monges shramana; é o estado atingido pelos Arahant. De acordo com a concepção budista, o Nirvana seria uma superação do apego aos sentidos, do material e da ignorância; tanto como a superação da existência, a pureza e a transgressão do físico.

[2] Teravada: literalmente, "Ensino dos Sábios" ou "Doutrina dos Anciões", é a mais antiga escola budista. Foi fundada na Índia. Relativamente conservadora, é a escola que mais se aproxima do início do budismo, e por muitos séculos foi a religião predominante no Sri Lanka (cerca de 70% da população) e a maioria dos continentais do Sudeste Asiático (Camboja, Laos, Birmânia, na Tailândia). O teravada também é praticado por minorias em partes do sudoeste da China (pelos grupos étnicos Tai e Shan), Vietnã (pelo Khmer Krom), Bangladesh (pelos grupos étnicos de Barua, Chakma, e Magh), Malásia e Indonésia, embora recentemente tenha conquistado popularidade em Singapura e no Mundo Ocidental. Atualmente, o número de budistas teravada é superior a 100 milhões em todo o mundo, e em décadas recentes o teravada começou a fincar suas raízes no Ocidente e no Renascimento Budista da Índia.

[3] Maaiaana: maaiaana ou mahayana é um termo classificatório utilizado no budismo, que pode ser usado de três maneiras diferentes:
  • Como tradição viva, o maaiana é a maior das duas principais tradições do budismo existentes hoje em dia, a outra sendo o teravada.
  • Como ramo da filosofia budista, o maaiana se refere a um nível de prática e motivação espiritual,[1] mais especificamente ao Bodhisattvayana[2] A alternativa filosófica é o hinaiana, que é o yana ("caminho") de Arhat.
  • Como caminho prático, o maaiana é um dos três yanas, ou caminhos para a iluminação, os outros dois sendo o hinaiana e o vajrayana.
     As raízes do nome mahayana são polêmicas, e têm sua origem num debate sobre quais seriam os reais ensinamentos do Buda. Embora o movimento maaiana trace suas origens a Gautama Buda, o consenso obtido pelas evidências históricas até hoje indica que tenha se originado no Sul da Índia, no século I d.C. Foi levado à China por Lokaksema, primeiro tradutor dos sutras maaianas para o chinês.
     A primeira menção ao maaiana ocorre no Sutra do Lótus, entre o século I a.C. e o século I d.C. As primeiras escrituras maaianas provavelmente se originaram durante o século I, no subcontinente indiano, e se espalharam para a China durante o segundo século. Apenas no século V o maaiana se tornou uma escola influente na Índia. No decorrer de sua história, o maaiana se espalhou pelo Leste da Ásia. Os principais países no qual ele ainda é praticado são a China, o Japão, a Coréia e o Vietnã.
     Alguns dos principais sutras maaianas, codificados para sânscrito, não sobreviveram com o tempo e se perderam. As versões que foram traduzidas posteriormente para o tibetano e o chinês sobreviveram. As principais escolas do budismo maaiana que possuem um número significativo de seguidores são o budismo tibetano, o zen-budismo, a Terra Pura, o Nichiren, o Shingon e o Tendai.

_________________________________________________________________________
FONTES: 
http://mytreadmilltrainer.com
http://esangha.onebodhitree.org 

[ARTES MARCIAIS] A História do Caratê (Introdução)


     Haverá quem afirme que fui muito longe em minhas pesquisas sobre as origens do caratê, mas eu digo que para se conhecer bem algo é necessário buscar suas raízes. Eu mesmo nada sabia de caratê até alguns anos exceto aquilo que era retratado em filmes. Já por muitas vezes escutei associarem a palavra "caratê" como sinônimo de qualquer luta oriental, generalizando e banalizando este nome. Com a minha paixão pelo caratê crescendo, me vi na tarefa de conhecer mais a fundo esta arte, além do que o "conhecimento popular" me ensinou.
     Pesquisas superficiais indicaram o caratê como uma arte criada pelo grande mestre Gichin Funakoshi. Sim, sem dúvida o mestre Funakoshi é o pai do caratê moderno, esquematizado da forma como o conhecemos hoje. Portanto, afirmar que o caratê é criação do mestre Funakoshi não é errôneo, porém esta informação é incompleta; afinal, o mérito do grande mestre está em organizar e popularizar um sistema de luta que teve sua origem muitas gerações antes dele, na ilha de Okinawa. A parte final desta matéria sobre a história do caratê retratará a vida e obra de mestre Funakoshi em detalhes.
     De forma alguma tenho a intenção de desmerecer o grande mestre, a quem reverencio como patrono aclamado desta arte que se tornou um sistema norteador da minha vida. Mas quando conheci mais sobre o caratê percebi que suas origens são bem mais recuadas no tempo, e determinei-me a saber mais.
     Aprendi sobre a história de Okinawa e suas artes autóctones, sobre o Naha-Te, o Tomari-te e o Shuri-te, e percebi que estas artes foram desenvolvidas com base no kung-fu dos monges chineses. Fui portanto conhecer mais sobre o kung-fu, e vi que esta arte teve origem com a própria história da China, mas o grande marco do desenvolvimento desta arte foi a codificação concebida no templo budista de Shaolin pelo venerável Bodhidharma, um monge budista indiano. Portanto, as raízes que eu buscava estavam na índia: o vajramushti, considerada a arte marcial primordial, da qual derivam todas as outras. O vajramushti tem forte influência do budismo que, mais que uma religião, é um fator cultural e histórico da Índia e que, ao contrário do que muitos acreditam, não deve sua origem exclusivamente à vida e obra de Siddhartha Gautama.
     Ficou estabelecido portanto o marco inicial de minha pesquisa: a história do budismo. Daí passarei a tratar do vajramushti, passando pelo kung-fu e a seguir as artes okinawenses, para só então tratar do caratê moderno.
     Àqueles, como eu, curiosos quanto à origem das artes marciais, tentarei detalhar o mais possível a pesquisa, sempre referenciando para aqueles que quiserem aprofundar-se ainda mais. A seguir, publicarei a primeira parte da pesquisa, que vem a ser a história do budismo.
_________________________________________________________________

[ARTES MARCIAIS] O que é caratê?

     As artes marciais são um tema, para mim, fascinante. Deve ser mal de família, já que meu irmão Zé também é um estudioso do tema: seu tema de monografia como trabalho de conclusão do curso superior de educação física versou sobre as artes marciais.
     A verdade é que ambos somos apaixonados por artes marciais, e isso já desde muito cedo. Começamos, eu e meu irmão Zé, a estudar o tema há uns 13 anos atrás, mais ou menos. Na época, começamos a treinar taekwon-do no colégio industrial, onde estudávamos, mas ele não durou muito nessa arte marcial. Poucos meses depois o instrutor Eliseu (Tampinha, para os capoeiristas) começou a dar aulas de capoeira no mesmo colégio, e foi amor à primeira vista para o Zé. Largou o taekwon-do, começou a treinar capoeira e não parou mais. Hoje ele alcançou a graduação, ou titulação, como preferir, de monitor (habilitado a lecionar), e é casado com uma capoeirista também, a minha cunhada Paula.
     Já o meu irmão Paulo é preguiçoso demais pra artes marciais. Começou a treinar caratê aos 20 e poucos anos, e não durou muito. Largou em poucos meses.
     Eu segui uma estrada mais comprida que meus irmãos, no quesito autoconhecimento. Eu continuei a treinar taekwon-do depois que meu irmão migrou pra capoeira por uns sete anos, sendo que nos últimos três desses anos treinei capoeira simultaneamente. Desisti do taekwon-do e permaneci na capoeira por mais dois anos, experimentando de vez em quando outra arte marcial, como kickboxing e muay-thay, mas sempre por pouco tempo (acho que só fiz uma semana de muay-thay, por exemplo). Depois, acabei por desistir da capoeira também.
     Poderia-se dizer que eu andava indeciso, ou que não sabia o que queria, mas não é bem assim. Eu sempre soube exatamente o que queria, e estava à procura. Enfim, encontrei: o caratê.
     Trata-se de uma arte marcial que reúne todos os requisitos que eu buscava: condicionamento físico, defesa pessoal, filosofia, ética, honra e repúdio à competição. Não que estes elementos não estejam presentes em outras artes marciais, mas no caratê Shotokan tradicional, a minha modalidade, são bem mais acentuados. Quanto ao repúdio à competição, explico: é claro que existem vertentes do caratê direcionados à competição (tanto que é uma modalidade olímpica), mas o estilo Shotokan, principalmente o ensinado pelo mestre Nelson Cardoso, 3º dan, busca a construção do carateca como guerreiro, como cidadão e como pessoa, objetivando uma filosofia que vale mais que mil troféus ou medalhas de ouro. Quem tiver a oportunidade de conhecer meu mestre e sua filosofia, certamente compreenderá do que estou falando...
     Enfim, chega o momento em que busco trazer a quem tiver interesse todo o conhecimento que aprendi e busquei sobre esta que se tornou minha segunda paixão (sendo a primeira, agora e para sempre, a minha Jany (^_^) Qualquer dúvida, ao final de cada postagem vou incluir a fonte (quase sempre wikipédia, sou só um organizador) e me disponho a responder a quaisquer dúvidas que surgirem. Se eu não souber a resposta, buscarei (inclusive perguntando ao mestre) e postarei.
     Divirtam-se.
_________________________________________________________________
O Que é Caratê


     Caratê (português brasileiro) ou caraté (português europeu) é uma arte marcial japonesa que se desenvolveu a partir da arte marcial autóctone de Okinawa sob forte influência do chuan fa[1] chinês. Seu repertório técnico abrange principalmente golpes contundentes (atemi waza[2]), como chutes, socos, joelhadas, tapas etc., executadas com as mãos desarmadas[3]. Todavia, técnicas de projeção, imobilização e bloqueios (ne waza[4], katame waza[5], uke waza[6]) também são ensinados, com maior ou menor ênfase dependendo do onde se aprende.
     O atual estágio da modalidade dá ênfase à evolução do condicionamento físico, desenvolvendo velocidade, flexibilidade e capacidade aeróbia para participação de competições, ficando relegada àquelas poucas escolas tradicionalistas a prática de exercícios que visam desenvolver a resistência dos membros e de provas de quebramento de tábuas de madeira, tijolos ou gelo. De um modo simples, há na atualidade duas correntes maiores, uma tendente a preservar o caractere marcial e outra, que pretende firmar o aspecto esportivo.
     A evolução da arte marcial aconteceu capitaneada por grandes mestres, que a conduziram e assentaram suas bases, resultando no caratê moderno, cujo trinômio básico de aprendizado repousa em kihon (técnicas básicas), kata (sequência de técnicas, simulando luta com várias aplicações práticas) e kumite (luta propriamente dita, que pode ser simulada, esportiva ou real).
      Ainda que comunguem de similitude técnica de origem, surgiram diversas variações de escolas, até umas dentro das outras, pretendendo difundir seu modo peculiar de entender o caratê. Tal circunstância, que foi combatida por mestres de renome, acabou por se consolidar e gera como consequência atual a falta de padronização e entendimento entre entidades e praticantes. Daí, posto que aceito mundialmente como esporte, classificado como esporte olímpico e participando dos Jogos Pan-Americanos, não há um sistema unificado de valoração para as competições, ocasionando grande dificuldade para sua aceitação como esporte presente nos Jogos Olímpicos.
     O estudioso/praticante do caratê chama-se carateca, que busca desenvolver disciplina, filosofia e ética, além de defesa pessoal e condicionamento físico.
     A grafia: "Caraté" ou "caratê" são as formas de grafia correta em língua portuguesa. Em que pese a vigência do Acordo Ortográfico de 1990, pelo qual as letras “K”, “W” e “Y” passaram a fazer parte do alfabeto, a grafia com a letra “K”, posto que seu uso seja difundido entre as associações representativas, deve ser desestimulada, ante o processo histórico/natural de aportuguesamento da grafia. O uso da forma com a letra “K” parece dever-se à circunstância fática de os líderes das entidades desconhecerem, no mais das vezes, as normas de gramática, devido suas origens, tradicionamente estrangeiras. A variação com acento circunflexo jutifica-se, no Brasil, pela influência da língua francesa, em Portugal, com acento agudo, por recepção direta do japonês, na qual o som da letra final seria aberto.
_________________________________________________________________
NOTAS

[1]Chuan Fa: é um termo chinês que literalmente significa "arte da guerra". No Brasil o termo normalmente usado é o Kung Fu. No entanto, na China este termo caracteriza qualquer tarefa feita com perfeição, não apenas artes marciais. Temos também outro termo bastante usado na China, Kuoshu, que significa "arte nacional", este termo foi imposto pelo governo chinês para designar a arte marcial (Wushu) de uma forma mais nacionalista.

[2]Atemi waza: é conjunto de técnicas que são aplicadas num determinado ponto; técnicas traumáticas aplicadas nos pontos vitais: o lutador visa um ponto específico no corpo do adversário, para, quando o atingir, causar não uma lesão, mas um desequilíbrio no fluxo de energia (Ki).
Importante ressaltar de que tais técnicas não são exclusividade desta ou aquela arte marcial, o que sucede em verdade é que as modalidades de lutas dão maior ou menor ênfase em sua aplicação; por exemplo, o caratê tem como cerne o emprego deste tipo de técnica.

[3]Mãos vazias: etimologicamente, caratê significa mãos vazias (kara=vazias, te=mãos). Originalmente, este termo tinha outro significado, embora preservasse a mesma pronúncia: significava mão da China (kara=China, te=mão), devido ao fato desta arte ter suas raízes neste país. A palavra, que embora seja pronunciada da mesma forma, é escrita com caracteres diferentes, mudou seu sentido quando o amadurecimento do caratê diferenciou-o das artes chinesas de onde provém. Foi o mestre Gichin Funakoshi (1868-1957), pai do caratê-dô contemporâneo, quem mudou o sentido da palavra, mudando o ideograma que a forma sem alterar sua pronúncia, trocando-o pelo ideograma correspondente à palavra “vazio”. A significação atual do nome caratê significa, portanto, “mãos vazias” referindo ao princípio da luta desarmada tanto quanto à visão do carateca como pessoa livre de influências materiais.

[4]Ne waza: é o conjunto de técnicas de solo, que dentro do judô e do jiu-jitsu engloba várias outras técnicas.

[5]Katame waza: é o conjunto de técnicas de artes marciais japonesas que têm por escopo submeter o oponente a controle completo por meio da aplicação de golpes/técnicas sobre as articulações e sistema circulatório do corpo.

[6]Uke waza: é o termo pelo qual se conhecem as técnicas de defesa das artes marciais japonesas. Muito embora seja traduzida como técnicas de bloqueio, o correto é defesa, pois uma defesa pode ser feita bloqueando ou desviando o golpe, ou ainda esquivando-se. Assim, seguindo a filosofia do aiquidô de não-agressão, as defesas se fazem controlando o fluxo de energia do adversário de modo a subjugar sem ferir.
_________________________________________________________________

PESQUISAR